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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Entrevista: Cock Sparrer.





A entrevista com o vocalista Colin McFaull rolou umas 4 semanas antes do Cock Sparrer se apresentar por aqui, e pela primeira vez. E também saiu na edição 78/agosto da revista "Comando Rock", que pode ser encontrada nas bancas ainda. Foi uma tremenda honra entrevistar os caras, fiquei realmente feliz com a oportunidade! Lembro quando era bem moleque ainda e escutei Cock Sparrer pela primeira vez, foi um choque e tanto!! Virei fã da banda e ainda hoje, depois de tanto tempo, está entre minhas bandas favoritas de sempre !!!


- São quase 40 anos de carreira completados, uma marca nada fácil para uma banda de Punk Rock! Qual é a motivação para seguirem em frente ainda, depois de tantos anos de estrada?

- Nós adoramos tocar ao vivo, conhecer novos lugares ao redor do mundo e poder ouvir todo mundo cantando nossas músicas. Não tem sensação melhor do que estar no palco e ouvir uma multidão cantando “England Belongs To Me”, seja no Reino Unido, Suécia, Alemanha ou Estados Unidos, esperamos que seja assim no Brasil.

- E outra coisa muito interessante, e rara também, é que são praticamente os mesmos caras que começaram a banda, e que estão até hoje juntos...

- Sim, isso é bem incomum. O Cock Sparrer na verdade é uma grande família, nós crescemos juntos. Nos conhecemos na escola aos 14 anos, e Daryl ( um dos guitarristas ) me lembrou este mês que no ano que vem ele completa 20 anos de banda, então ele também não é mais um garotinho.

- Vocês passaram pelo auge, e também por momentos difíceis, com a música Punk/Oi! na Inglaterra. A violência e a política extrema prejudicaram muito ambas as cenas, nas décadas de ‘70/’80?

- Houve alguns dias, durante os anos ’80, que foram ruins e difíceis, mas eu fico bem feliz ao saber que esses dias se foram há muito tempo.


E agora as coisas parecem mais calmas, com as pessoas indo para os shows apenas para ouvir a música e se divertir, como deve ser...

- Quando nós criamos o Cock Sparrer, queríamos só tocar com o coração e dá o sangue todas as noites, ficar bêbados com o público e mandar todo para casa com um sorriso no rosto. Ficamos muito agradecidos que hoje as pessoas que vão aos shows querem apenas se divertir, ouvir e curtir as músicas e voltar parar casa felizes. Nosso público é uma mistura entre skins e punks de todas as idades, gêneros e tamanhos que só querem ter uma noite legal.

- Amigos que viram vocês ao vivo dizem que é uma verdadeira celebração o show, com um clima de diversão/emoção o tempo todo...

- Se é isso que elas dizem, então nós atingimos alguns objetivos que nós colocamos ao longo desses quarenta anos.

- E agora, pela primeira vez, tocam no Brasil! Finalmente! Quais são as expectativas para o show aqui?

- Finalmente nós vamos tocar no Brasil. Demorou um pouco, mas estamos muito felizes e ansiosos para o show em São Paulo, será nosso primeiro show no Brasil, e será ótimo. Uma festa grande e barulhenta.


- O Brasil tem uma participação interessante na história da banda, já que contou com um brasileiro em sua formação nos anos ‘80.

- Chris era um brasileiro bem magro com um afro gigantesco quando nos conhecemos. O inglês dele não era tão bom e para nos comunicarmos era um pouco difícil. Estávamos procurando por um guitarrista base e Chris respondeu o anúncio. Então éramos quatro londrinos e um brasileiro louco pronto para começar a gravar “Shock Troops”. Poucas pessoas entenderam o por que dá nossa escolha, mas nós sabíamos que ele encaixaria perfeitamente, e durante o tempo que Chris esteve com a banda foi um período muito bom, rimos muito juntos.


- Alguma chance de encontrarem o Chris Skepis aqui? Talvez uma participação dele no show?

- Isso não seria legal?


- Vocês tiveram muitas de suas canções gravadas, tributos, por diversas bandas em estilos variados também, ao longo desses anos. Quais versões chamaram mais atênção?

- Sempre ficamos lisonjeados quando outras bandas fazem cover de nossas músicas e isso, quando apropriado, é um grande tributo. Grupos famosos como Dropkick Murphys ou Agnostic Front gravaram “Working” e “England”, porém achamos um vídeo surpreendente no Youtube de alguém tocando uma versão de “Because You’re Young” com um banjo sozinho no quarto.


- Fora dos palcos, quais são suas ocupações e hobbys, no dia a dia?

- Todos da banda ainda têm empregos apropriados para pagar as contas e as hipotecas, e é por isso que não saímos em turnê o tempo todo. A maioria de nós tem filhos, e que nos deixaram bem ocupados durante os anos, por exemplo. Tivemos que assistir as partidas de futebol todo sábado e domingo com eles e na medida que cresceram não nos deixaram muito tempo para hobbies. A minha sorte é que vivo em Londres e aqui sempre tem show e bandas que quero ver e, além disso, tem a loucura de ser um torcedor do West Ham que é o suficiente para me manter ocupado.

- Ainda vão ao estádio apoiar o West Ham United, então?

- Claro! Uma vez que isso está no nosso sangue é impossível ignorar. Eu tenho ido para o Boleyn Ground (nome oficial do Upton Park ) desde os sete anos e nesse longo tempo já tive muita dor de cabeça e também alguns momentos felizes, contudo é impossível desistir disso. É como o melhor e o pior tipo de vício. Ano passado eu não consegui ir tanto quanto queria por causa de todos os shows que tivemos que fazer, mas nessa temporada será diferente, mesmo que estejamos no campeonato da segunda. Poderíamos ganhar alguns jogos este ano, quem sabe?

- Falando ainda em futebol, que sei que é uma paixão de vocês, como analisam o atual futebol inglês? A liga inglesa tem muitos jogadores estrangeiros, e seus clubes sendo vendidos para magnatas russos, por exemplo. Isso é positivo ou negativo para o futebol inglês, no final?

- O advento do dinheiro para a Premiership ( elite do futebol inglês ) mudou definitivamente o futebol inglês para o pior. Certamente, você está vendo os melhores jogadores na liga, mas a que custo? A maioria dos clubes, com poucas exceções, estão perto da falência e não têm a renda para pagar os altos salários dos jogadores e é por isso que os preços dos ingressos têm crescido a cada temporada. Não é mais o jogo do homem que trabalha, é tudo sobre como manter as empresas e patrocinadores felizes. Alguns clubes estão abandonando suas equipes mais jovens por não poderem dar o suporte necessário, de forma que há poucos novos jogadores ingleses bons. O maior problema para mim é que não há mais lealdade dos jogadores. Quando algum deles veste a camisa do West Ham, independente de onde eles vêm, eles devem usá-la com orgulho e correr até cair. Infelizmente, esse não é o caso, pois um monte de jogadores e seus agentes olham apenas para o próximo dia de pagamento e não dão a mínima para os seus fãs.



- E vocês continuam curtindo as mesmas bandas que influenciaram no início de carreira? Alguma coisa “nova” chamou a atenção nesses últimos tempos?

- Eu ouço várias coisas diferentes, algumas novas e outras antigas. Isso depende do meu humor e de quantas cervejas bebi. A cena na Inglaterra está positiva neste momento com várias bandas novas aparecendo. Em agosto, tocamos no Rebellion Festival em Blackpool, que teve mais de duzentas bandas tocando durante quatro dias, boa parte delas eram banda no início da carreira. É bom ver que esses novos grupos têm a oportunidade de tocar em lugares como esse, algo que nunca tivemos quando começamos. Tenho escutado bastante a The Jons, que meu filho Tom e o filho do Burgue, Jack, tocam. Eles estão no processo de escrita e gravação para o primeiro álbum, então a casa fica cheia das músicas do The Jons a cada minuto.


- O último álbum da banda foi produzido pelo Lars Frederiksen, do Rancid. Como foi feito o contato entre vocês? E o que acharam do resultado final?

- Lars é um bom amigo da banda e ficamos felizes quando ele se ofereceu para nos ajudar em “Here We Stand”. O plano era ter ele no estúdio produzindo com a gente, porém compromissos apareceram no meio do caminho e tivemos que terminar as gravações e enviar para ele, que mixou depois nos EUA. Foi muito bom ter pela primeira vez uma influência de fora em um de nossos álbuns e ele realmente trouxe algo diferente, ele afiou um pouco mais o nosso som, que talvez tenha faltado nos outros álbuns. Ficamos satisfeitos com a colaboração do Lars e também com o resultado disso.

- O selo atual do Cock Sparrer na Inglaterra é a Captain Oi!, correto? É fácil trabalhar com um cara como o Mark Brennan, outro veterano da música punk inglesa? ( Mark foi baixista da clássica banda The Business, além de ser dono do lendário selo Link Records, nos anos ’80, e atualmente da gravadora Captain Oi! )

- Mark Brennan é uma lenda, que fez tanto para a cena do Reino Unido e Europa. Para nós, que foi tão dificil no passado, é ótimo poder trabalhar com uma pessoa como Mark, podemos confiar plenamente nele e sabemos que ele tem nossos melhores interesses no coração. Ao longo dos anos temos construído lentamente pelo mundo afora uma família estendida do Cock Sparrer, com gravadoras como a Captain Oi! no Reino Unido e a Pirates Press nos EUA, que cuidam da banda. Também tem os produtores e organizadores que conseguem agendar nossas apresentações. Acreditamos que todos devem ser tratados de forma justa, já que nos ajudaram a alcançar o que temos agora.


- E tem o livro “Best Set In The House”, contando a história da banda, e que foi escrito pelo baterista Steve Bruce. Todos na banda ajudaram nessa obra também?

- Não, o Steve fez tudo sozinho. Ele disse que queria fazer sua história, não necessariamente com a banda. Dessa forma, o livro não é uma biografia “oficial”, mas sim suas memórias e lembranças. Ele não nos deixou ver antes de ser publicado porque sabia que todos nós iríamos ter lembranças, histórias e situações diferentes e se cada um fosse participar disso, não teria fim! É um livro bem legal, é realmente uma boa leitura com recordações que eu já tinha esquecido.

- Planos para um novo álbum ? Alguma comemoração especial para os 40 de carreira que estão chegando?

- Tiramos os primeiros três meses de férias para escrever algumas coisas novas e ver como isso iria ficar. Certamente, se as músicas ficarem boas o suficiente, nós gostaríamos de gravar um novo álbum para o nosso quadragésimo aniversário, veremos o andamento...Nós não lançaremos um novo álbum por causa disso, ele tem que ser melhor do que o “Here We Stand”. O plano é ir para o estúdio assim que voltarmos do Brasil e gravar alguns sons para ver se vai funcionar e depois, quem sabe? Já estamos planejando algumas apresentações para o próximo ano, com um ou dois especiais, então fiquem ligados!

- Falta alguma coisa ainda para o Cock Sparrer conquistar?

- Ganhar na loteria, marcar o gol da vitória no final da taça, Charlize Theron, tocar no Brasil (Ah...agora estamos fazendo isso...Bons Dias!)