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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Entrevista: Ferox





Alex Cable e sua esposa Nix formaram a banda Internal Autonomy em 1986 em Frimley (uma pequena cidade da Inglaterra)
Punk, gótico ou anarco punk....porque é 1986 não havia uma distinção tão "grande" - por isso não tinha importância e ninguém tinha pensado
em "post-punk" ou "peace punk" ou Dark Punk" ainda.
O Internal Autonomy está morto!! (como a Thatcher!!!) longa vida ao Ferox, a nova banda do casal junto ao baixista de humor irônico e divertido Mark.
O trio foi muito firmeza em responder as perguntas cabeçudas de Renato e Denis Loureiro. (um grande admirador e divulgador da banda)
Gostaria de ter feito esta entrevista antes portanto peço desculpas a todos os envolvidos, principalmente a Alex, Nix e Mark.. agradeço o apoio do Alternar Zine
e a Tradução eficiente e boa de Katia Nunes e Catarina Troiano.
A entrevista é longa e modéstia a parte esta bem legal, em tempos de facebook e net, as pessoas tem lido menos, mas.. penso que o webzine continua com o espírito "zineiro" ou seja: só para os fortes e que entendem esta linguagem do "faça você mesmo"
Quem tiver interesse em conhecer o som do antigo Internal Autonomy e o atual Ferox, curtam a página, entrem em contato que vale muito a pena.
Ferox produziu material novo e tem o link para baixar o CD.
Os dois CDs que eles enviaram, possuem a arte de capa artesanal e muito bem feita. (resenha dos cds em breve!!)
Por: Renato Andrade



1)A ideia de LIBERDADE(pessoal/social) fora inspirada pelos exemplos que tiveram de acordo com Ações ou Teorias Políticas?

Mark: Praticamente todas as minhas ideias sobre liberdade vêm de Joe Strummer e Bob Marley. Eu também me inspirei em Genghis Khan depois de ler uma biografia sua recentemente, em oposição a " oh, sim, eles violaram e pilharam o mundo ". Amo a ideia de que a ideologia de um homem poderia unir uma nação em grande escala.

Nikki : Minhas ideias sobre liberdade cresceram no decorrer da minha vida. Quando eu era jovem, era como encontrar uma maneira de viver. Agora que estou mais velha, percebo que o melhor é ter liberdade para si mesmo. Ideias são baseadas em julgamentos morais, leis, regras ou doutrinas e isso não é liberdade, pois regras sempre podem esmagar outra pessoa ou escolha. Eu vivo tão livre quanto posso com respeito mútuo, apoio e procuro não criticar ou restringir outras pessoas para que não façam isso comigo também. Há muitas coisas que não gosto de ouvir, mas posso usar minha liberdade pessoal para falar a minha verdade. Censura significa não liberdade. Não censura = liberdade.

Al : Bem, hoje em dia elas vêm da ação e prática, quase inteiramente. no final da minha adolescência/ começo dos vinte anos, me interessei em ler sobre teorias do anarco/ comunismo e sindicalismo e tal por alguns anos. Creio que estava obcecado em teorias ( risos ) e foi um erro, talvez, em alguns aspectos, mas aprendi com isso, felizmente. Hoje em dia, as minhas ideias são o resultado da experiência que tenho, tanto que considero todas as teorias políticas mais ou menos irrelevantes. Mesmo que sejam lindas. Não quero dizer que a " anarquia é uma porcaria ", sua base filosófica é pura, simples e genial, muito verdadeira, o que quero dizer é que ter uma cabeça cheia de bagagem teórica não o tornará livre nem mostrará como assim sê-lo. Política não faz parte da solução, é parte do problema. Ela redefine, seletivamente, distorce a realidade. Pode-se argumentar eternamente sem progresso ou resolução. A Esquerda quer que acreditemos estamos todos em sociedade e justiça e isso é o que importa, já a Direita
quer que acreditemos em necessidades pessoais e familiares. somos humanos e precisamos da duas versões e muitas coisas além disso.
Até entender qual parte da equação é a mais importante ( só assim alguém pode dividir ), nunca faremos progresso. Você pode teorizar sobre cozinhar ovos, pode discutir como como cozinhar um ovo....ou pode simplesmente cozinhar a droga do ovo, entendeu ? qual a dificuldade nisso ? O que funciona na vida real e produz uma verdadeira liberdade, na minha opinião, poderia ser chamada de "cooperativa individualista " ou seja, o autogoverno, com envolvimento interativo na sociedade e com outras pessoas, mas sem interferir no jeito de como deva viver, pensar ou ser. Para obter respeito, precisa aprender a respeitar o espaço dos demais e para conseguir sua liberdade , precisa aceitar e tolerar a liberdade dos outros também. Para ter seu próprio espaço é necessário que os demais também tenham. Toda ação gera uma reação. Se alguém transmite um problema grave ou uma ameaça, há maneiras de lidar com isso, certo ? A solução mais correta com aqueles com quem não consegue se entender é deixá-los sozinhos para que façam as coisas do seu jeito, mas não podemos fazer isso na comunidade e por isso que nunca duram. Praticamente nada pode ser organizado ou alcançado diretamente pessoa a pessoa. Organização natural e rede social fazem com que as coisas sejam feitas com muito mais imaginação e inteligência e o mínimo de confusão, como um sistema que nunca nos decepciona. A vida tem seus problemas, mas os únicos que não consigo resolver com a cooperação e ajuda de outras pessoas, de fato, vêm da economia, leis e do governo, o que isso diz a você ? Que cada um deve ter sua própria opinião e essa é a minha ideia sobre liberdade.

2-Quem definiu a linha musical e o nome INTERNAL AUTONOMY ?

Al : INTERNAL AUTONOMY ! Todos tivemos participação em maior ou menor escala. Acredito que, em sua maioria, ele foi feito na base do " contribua com o que quiser, criativamente ".

Nikki : Fizemos a maior parte do trabalho e sua definição, eu creio. Essa é uma boa pergunta, mas ninguém pode dar uma resposta definitiva, apesar de estar sentado aqui sorrindo. Mesmo assim, a resposta é simples: Al, pois ele tem sido parte de cada pedaço de música feita de 86 até agora, 2014. Desde seus 17 anos até agora, ele tem feito toda a engenharia e gravação. Ele fez melodias, tocou guitarra , bateria, baixo e algumas vezes escreveu muitas letras, mas...mas...mas...( e estou dizendo isso porque ele nunca diria ). Al não pensa nisso como " seu " e nunca escutei ele dizer " minha banda ". Isso nunca foi feito para ser a banda de alguém, nunca. Como resultado, o que tem acontecido é uma constante mudança, sombra, corrente melódica de música. Cada um de nós adicionando a ele o que poderia ou que queria ao longo do caminho e penso que vai para todo mundo que já trabalhou como parte dessa banda.

3-Quais são as influências musicais e o que mais marcou na cena Anarcho-punk?
Mark : Fácil. Punk dos anos 70, HC ( Discharge , UK 82 ), Stranglers, Clash, Dead Kennedys, Marley, Cockney Rebel and Dr. Hook ! Pra ser honesto, nada tive a ver com o anarco-punk, pois não dei a devida importância na maior parte dos anos 80.

Al : Eu gosto de muitos tipos de música : dub reggae é uma influência muito impostante pra mim, como HC , por exemplo. De volta ao início dos anos 80, minhas bandas prediletas foram : Crass, Bad Brains, Killing Joke, Siouxsie, Discharge, UK Subs, The Astronauts, Amebix, Peter and Test Tube Babies, Rubella Ballet, Dirt, UK Decay, Fleux, Action Pact, ATV, X-Ray Spex, Southern Death Cult, Bauhaus, The Ex, ANWL, The Alternative, R. Peni, The Damned, The Apostles e, claro, Sex Pistols. Não me importo se isso é ou não 'anarco-punk'. Essa definição não existia naquele tempo. Crass Clones foi o único que mais se aproximou, pra mim, ao anarco-punk. Eu posso ser anarquista e punk, mas , realmente, nunca pensei em mim como anarco-punk.
À medida em que a cena segue, sempre gostei da diversidade, o cenário de total liberdade era divertido, criativo e vibrante, realmente instigante e pé no chão, aberto, ninguém atacava alguém por usar roupas de couro ou por contar piadas politicamente incorretas, as pessoas eram mais honestas e ' de boa ' naquela época.

Nikki: Influências musicais são uma coisa engraçada, pois eu creio que 9 de 10 tentativas de fazer uma música falharam. Há sempre sal demais na mistura. As influências mais interessantes são as que chegam até você sem que pense muito nisso. Pessoalmente, rock'n'roll, soul, blues, punk, gótico, ópera, metal, hippie, tenho tudo isso acontecendo. Vamos dizer apenas..eclética ? O que mais eu gosto no anarco-punk dos anos 80 ? A forma como eu poderia conectá-lo com as pessoas , não apenas às pessoas em regiões distantes de seu próprio país, mas em todo mundo. Não sou o tipo de pessoa que tenha de ver todo tipo de banda classificada ao vivo, então, eu nunca tive de morar em algum lugar com uma cena onde a subcultura acontece. Não me importo em me encaixar nas tendências ou seguir uma doutrina, tipo: ' sapatos veganos são a " bola da vez " ' ou ' o hambúrguer vegano que comprei foi " aprovado " pela cena '. Mas eu amo fazer música e arte, partilhar ideias sobre liberdade. Essas são, realmente, coisas muito boas.



4-Com relação ao projeto FEROX que lançaram pela plataforma Indiegogo, comente as dificuldades e frustrações do passado e dos dias atuais,como os benefícios tecnológicos.

Nikki : Fizemos pela Indiegogo apenas porque realmente não tínhamos dinheiro sobrando para finalizar o álbum ' Ferox ' ( do it yourself ). Indiegogo permite manter todo o dinheiro investido, mesmo que você não atinja o seu objetivo, foi importante para nós, porque as pessoas que pagaram, conseguiram o que queriam. Foi bom e ruim. Bom: ele permite que você comece um projeto do nada e fique no controle. Ruim : se as pessoas não o toleram, ele falha, nós pensamos numa maneira de dar a elas o que prometemos e nos orgulhamos disso. Mas, creio que ele nos fez perceber que as pessoas que gostam do Internal Autonomy não gostaram muito das músicas do ' Ferox '. Isso é um problema quando você quer fazer músicas novas e não somente repaginar as músicas dos anos 80. Ou pior, Tornar-se seu próprio cover tocando seus próprios hits e isso não seria sermos nós mesmos. Então, nos reunimos numa noite na companhia de café e cigarros e decidimos homenagear Internal Autonomy do álbum ' Ferox ' e, em seguida, parar de usar o nome para sempre.
Dessa forma, as pessoas conseguem gostar e manter I. A., assim como nos anos 80 com aqueles sons das fitas da época. Enquanto nós, as pessoas que fazem a música, conseguimos produzir sons novos com novos descontentamentos, ideias, amor, dor e tecnologia. INTERNAL AUTONOMY, em 2013, torna-se ' Ferox '. Então, o futuro é Feroxide.


Mark : Sobre Indiegogo ? Tecnologia é Deus e o Diabo. Algo que eu considero que representa a humanidade com bastante precisão. O lado positivo é que funciona muito bem para projetos como o nosso. O negativo é que tenho vontade de matar todo mundo que não pode escrever uma frase inteira adequadamente.

Al : Precisamos do dinheiro para fazer o álbum. A resposta não foi tão boa como queríamos, mas nos ajudou muito e encontramos uma maneira de fazê-lo dentro do orçamento. Não houve muita frustração. A frustração, tanto do passado e do presente, é que os punks querem que você lance sua música e que não paguem por ela ou não querem que você ganhe dinheiro com isso e ainda o denunciam como " capitalista sujo " ,se fizer dessa forma. Não tenho certeza de funciona essa economia. Tudo custa dinheiro, cada banda, cada zine, cada gravação...o sistema monetário não é opcional e se você espera que aqueles que criam para você não tenham uma compensação, então, não é um anarquista e sim, um aristocrata.É ótimo quando as pessoas disponibilizam sua arte gratuitamente e temos feito isso também ! Não negamos a ninguém uma cópia gratuita da nossa música se realmente não puder se dar ao luxo de pagar por ela. São bem-vindos, mas as pessoas devem apoiar-se mutuamente, se puderem, já que nenhum comércio é sustentável se for tudo ' pegue ' e não ' dê ', o capitalismo ou o não capitalismo.

5. Vocês conseguem escolher alguém para tocar ou trabalhar, se vocês pudessem, quem seria? (Antigamente ou hoje em dia).

AL: Cult of Luna, Killing Joke e Jello Biafra, seriam ótimos. Eu meio que fiz isso quando dirigi e coproduzi o disco In Defence of Compassion do The Astronauts — foi uma grande experiência, eles foram e são minhas bandas favoritas e, também, pessoas muito legais na vida real.

MARK: Jello Biafra, Joe e Johnny Cash!

NIKKI: David Bowie, Killing Joke, Einsturzende Neubauten.

6. A banda Internal Autonomy gravou versões do Rudimentary Peni. Vocês tem uma boa história sobre esse episódio? (amizades, influências).

AL: Não, mas gostaria de ter! Eu sempre curti o som deles e me lembro do dia em que ou-vi, eu tinha contato com muitas pessoas que os conheciam, mas nunca andei com eles pessoalmente.

NIKKI: Nenhuma história legal, só curto muito a banda desde o começo... estética, som — brilhante. :)

MARK: Nunca ouvi Rudimentary Peni, mas sempre gostei do nome!


7. Aqui e em alguns lugares existe um tipo de "vigilância" sobre as bandas punks. Por exemplo, existe alguma banda que vocês gostam, mas que os fãs deles não estariam tão satisfeitos? E, de acordo com o que pensam, até onde vai o conceito de liberdade?

MARK: Suponho que você se refere aos fãs que criticam as bandas por "se vender", etc.? Se for isso, muitas vezes eles não estão se vendendo, mas sim amadurecendo enquanto músicos e pessoas. Se a banda é boa e ainda é relevante, em geral, seu público vai "curtir". Eu citaria NMA [New Model Army] nesse aspecto.

NIKKI: Ninguém é perfeito. Eu não penso que policiar o comportamento das pessoas tenha algo a ver com liberdade. Eu poderia, como artista, me importar se alguém copiar o meu trabalho, mesmo sem falar comigo, porque isso mostraria falta de respeito. Mas, eu não vou impedi-los. Liberdade significa que você é livre para fazer suas próprias escolhas. E, eu não preciso concordar. A vida é um paradoxo — como você pode ver.

AL: Todos têm direito à sua opinião e escolha pessoal, do mesmo jeito bandas e fãs, para ser honesto, não gosto de pessoas que ficam "pregando" ou sentados em um pedestal da moral, de onde julgam os outros a partir de suas concepções. Há muito tempo existe este problema na cena Punk: era pra ser sobre liberdade e anarquia, mas a "mensagem" é mais sobre uma série de proposições morais inflexíveis. Então, existe ai uma grande contradição: você quer a liberdade ou quer que aceitem suas regras? "Não matarás", OK, é possível parar de matar? Mesmo entre os adeptos mais fervorosos dos Dez Mandamentos? Veja, você pode proclamar, ditar, julgar, criticar e punir tudo que você gosta, mas é inútil, por-que você não pode erradicar o desejo e a necessidade de matar: NUNCA!! É como lidar

com qualquer coisa que afeta suas necessidades, entende? Entretanto, "bom" e "mau" sem-pre irão existir, em qualquer lugar, com qualquer um, apesar de todas as leis, regras, governantes ou militantes. Você não pode realmente "controlar" a vida ou "mudar o mundo" desse jeito —pelo menos, não para contribuir — você só pode fazer o seu melhor como um indivíduo. Às vezes, isso é o suficiente, às vezes não. A vida não é perfeita, as pessoas não são perfeitas —pense nisso!


8. Como é a frequência e a circulação dos zines na cidade de vocês? O que pensam sobre blogs e zines?

AL: É uma pequenas comunidade de mineradores, em Wales não tem uma super cena Punk, mas são Punks de muitos outros jeitos!

NIKKI: lol [risos] Esta é uma verdade não muito glamorosa... Al e eu vivemos em uma comunidade/vila de ex mineiros economicamente esquecida— é apenas uma velha rua de 100 anos, com duas fileiras de pequenas moradias de trabalhadores rurais, e, é a metade do caminho até a montanha Welsh. Você pode andar milhas ao redor daqui, mas acredito que somos os únicos praticantes do "punk". Não existe um "cena" e nós gostamos disso. Somos um grupo de pessoas independentes que não desejam ou necessitam de qualquer aceitação ou validação, nos preocupamos em fazer música, mas realmente não vamos mu-dar o jeito de promover o nosso trabalho. Gostamos de viver à nossa maneira e essa comunidade nos deixa fazer isso — é uma "experiência de vida" incrível. Jovens e velhos jun-tos (em sua maioria) e ajudando-se mutuamente no que pode ser um ambiente hostil. Mas, todos sobrevivem e são, individualmente, sem títulos ou nomes. É um tipo real de anarquia e quando as coisas precisam ser feitas ou algo precisa ser dito — acontece... Isso é Punk :).

Por isso, não tem zines por aqui. Eu escrevo muito e estou pensando em maneiras de colo-car várias idéias em um zine e realmente gosto muito de ler aqueles que as pessoas nos enviam, além de manter contanto pela internet.

MARK: Não vejo um há décadas, tenho medo. Entretanto, tenho lido ultimamente alguns blogs europeus punk, falavam sobre o ataque cardíaco do Wattie [Buchan], estavam muito bons. Zines e, mais precisamente os blogs, hoje em dia são a espinha dorsal de qualquer subcultura.


9. Como vocês descreveriam a música que fazem?

MARK: Fudidamente boa, especialmente o baixo! Mas, falando sério: inteligente, bem es-crita, informativa e, espero que ainda seja relevante. O mundo ainda está mudando para pior, por isso o punk ainda é essencial!

NIKKI: Variada, diversificada, obscura. Embora eu pense que a única constante é na escuridão. A determinação de olhar para as coisas de um jeito que nem todos querem ver. Eu gosto muito de pensar sobre temas complicados, então coloco isso em minhas letras — para provocar mais pensamento... Como o disco Pawn, por exemplo. Vivemos em uma época em que não estamos mais autorizados a usar palavras como "puta" ou "vadia". Onde espera-se que concordemos que é uma coisa "maravilhosa" as mulheres ocuparem cargos de poder sobre nós, ao lado de homens — NÃO! Foda-se — o que é tão incrível nisso? Feministas Autoritárias e líderes não são "melhores" só porque são mulheres. Que se foda

esse pensamento. Uma mulher que escolhe viver como dançarina não é menos digna do que uma ativista política. Ideias que dizem que há um jeito certo para se ser mulher ou uma feminista deveriam ser questionadas — se quisermos "crescer" enquanto humanidade. Não acredito que iremos alcançar isso enquanto continuarmos a se fazer de "vítimas" e "monstros".

AL: Desconfortável — não foram pensadas para serem "agradáveis", e as letras contam sobre como são as coisas. Não tentamos ser impopulares, mas parece que é esse o resulta-do! Não me importo com isso, faço o que quero fazer e isso me satisfaz. Não tenho do que reclamar, se eu quisesse tocar sons pop, faria ao invés disso que faço.


10. O que vocês pensam sobre a Copa do Mundo e sobre bandas que falam/tocam temas sobre futebol em suas músicas?

MARK: Copa do mundo = Pessoas ricas ficando mais ricas, pessoas pobres ficando mais pobres. Infelizmente, mais uma triste reflexão sobre a humanidade. O futebol mundial é uma piada!

NIKKI: Os grandes eventos mundiais esportivos são extremamente gananciosos. Então, são utilizados para nos vender porcarias que não queremos e não precisamos... enquanto a vida de pessoas reais é arrasada para abrir caminho ao circo. Os fãs do esporte apenas consomem o que a mídia mostra, sem muita reflexão. O esporte é um GRANDE negócio. O que aconteceu no Brasil foi horrível, enquanto o marketing oficial agitava o calor, roupas curtas, cerveja e salgadinhos... num mundo onde existe a mídia social, você não pode se esconder atrás da ignorância como desculpa. Não estou dizendo para não curtir ou amar seu esporte/futebol/time — Estou dizendo que a vida das pessoas não deveria piorar ou ser sacrificada para o seu entretenimento.

AL: Todos nós temos nossos interesses e paixões, todos temos nossa bagagem de experiências — e, as vezes, entra em contradição. A realidade é que o governo brasileiro destruiu lares — não os fãs do futebol. Foi tudo por dinheiro, não pelo esporte. Futebol foi um meio, não o fim. Pessoas ficaram desabrigadas por dinheiro, dinheiro e mais dinheiro — nada mais. Isso foi horrível; cantar músicas — qualquer som — não é o problema.


11. Vocês já tocaram no Rebellion [Punk Music] Festival? Se sim, quando?

MARK: Ainda não!

AL: Não, mas eu gostaria de participar alguma hora.

NIKKI: Não, nunca toquei no Rebellion Festival — isso seria algo para se pensar. :)

12) Qual fase vocês sugerem Internal Autonomy ou Ferox para um fã que está começando agora a ouvir os sons da banda?

MARK: Só posso responder pelo Feroxide, e é bem simples — ouça tudo!

NIKKI: Não faço a menor ideia — eu realmente não sei — são tão diferentes. Se você esti-ver na atmosfera dos anos 80 anarco pós punk, talvez a discografia [do IA]. Tem um gosto de tudo que existia naquela época e um pouco de cada músico e vocalista. A minha favori-ta, sempre foi a nossa quarta fita demo. Mas, também tenho muito orgulho do nosso últi-

mo disco Ferox com o Internal Autonomy. E, sobre tudo, o novo trabalho Ferox/Feroxide, fi-quei muito feliz com o disco Pawn terminado, não faltou uma faixa nele. Mas, os sons não são todos iguais — pertencem um ao outro, como uma caixa de chocolates com diferentes sabores, alguns pretos, outros brancos :) Por que não vir para a música com a mente aberta e ver o que acontece? Se gostar, ótimo. Se não, sem problemas, vá e ouça algo que você realmente curte. Mas, não fique reclamando... Ha! [Yawn!] Eu não entendo os críticos de arte, cujo maior prazer auditivo é o de destruir seus companheiros. A vida é muito curta para ouvir músicas que você não gosta. :D

AL: Isso depende do que esse "alguém" quer escutar. Se eu tivesse que escolher um disco seria o Pawn, é um bom começo, penso eu... Eu acho... Enfim, é só ouvir, certo?


13. Para terminar, contem algo que vocês gostariam de dizer e nós não perguntamos.

AL: Muito obrigado pela entrevista, eu realmente gostei — desculpe se algumas respostas foram um pouco longas — vocês não deveriam ter feito perguntas tão boas :) Brazillian Rules Punks! (de forma totalmente não autoritária :D).

NIKKI: O nosso próximo lançamento será a distribuição gratuita de uma fita gravada com o Ache of ages chamada “Element Tree”, isso porque Tristan nos chamou e enviou um mate-rial que nós achamos interessante e que merecia atenção... Então, entramos com nossas ideias e gravamos o nosso lado. Vou lançar assim que conseguir o dinheiro para a manufatura. Não haverá uma super festa ou fogos de artifício. Apenas o download gratuito e in-tegral do álbum ou uma cópia limitada da fita. Qualquer um que quiser comprar uma có-pia poderá falar diretamente conosco via Bandcamp ou por mensagem no Facebook, em nossa página FEROXIDE.

[LINK: https://www.facebook.com/pages/Feroxide/439724236114938].

O mesmo vale para todo o nosso trabalho... O dinheiro arrecadado vai para o próximo projeto ou para imprimir capas. É realmente "feito por nós".

MARK: P: : "Por que eu ainda continuo fazendo isso aos 50 anos de idade?".

R: Música é a melhor coisa que a vida pode oferecer!

http://ferox1.bandcamp.com/

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Top 10 - Eduardo Abreu ( 100 Tribos - Rock Press - blog Caixa Preta )

Como levar a sério uma lista de discos top 10 em que não aparecem “London Calling”, do Clash, ou “Ace of Spades”, do Motörhead? Como acreditar que seria possível passar o resto da vida numa ilha deserta sem a companhia de “Excitable Boy”, do mestre Warren Zevon, ou a obra-prima “Harvest”, de Neil Young? E que tal pensar que você ficaria privado para todo o sempre de exorcizar seus demônios com “Reign in Blood”, do Slayer, porque o autor desse top 10 teve a pachorra de deixá-lo de fora?
Mas fazer listas é isso: excluir centenas de discos obrigatórios em detrimento de uns poucos que, em determinado instante do tempo, ocupam um lugar especial no seu imaginário.
A eles.
Texto por: Eduado Abreu




Dick Dale – “Better Shred Than Dead” (1959–1996)

O rei da surf guitar faz parte de uma especial geração de transgressores. Se Link Wray inaugurou a distorção, foi Dale quem adaptou para a guitarra elétrica um certo tipo de palhetada antes comum apenas a outros instrumentos de corda. Sem querer, gerou a semente para o surgimento dos gêneros mais selvagens do rock’n’roll. O auto-proclamado rei da surf guitar contribuiu também para o desenvolvimento de guitarras e amplificadores, desafiando Leo Fender a criar equipamentos capazes de dar conta de sua ferocidade sonora. Como é do tempo dos singles, a obra de Dick Dale não pode ser resumida em um disco de carreira. A melhor maneira de compreendê-lo é através da antologia “Better Shred Than Dead”, um CD duplo que compreende 40 anos de subestimada carreira.



The Stooges – “Funhouse” (1970)

Não é exagero dizer que com seu disco epônimo lançado em 1969, Iggy e os Stooges acabaram com o que restava de inocência no rock’n’roll. Mas foi apenas em “Funhouse” que a violência sonora dos padrinhos do punk foi devidamente captada em estúdio. O álbum prenunciou a distopia setentista e o sequestro do rock por junkies e marginais, traduzido a desorientação da época. A primeira parte de “Funhouse” traz algumas das canções mais icônicas dos patetas de Detroit (“TV Eye”, “Down on the Street”) e a segunda, temas sujos, arrastados e distorcidos, acrescidos do sax de Steve MacKay, e que soam como free jazz tocado por punks. Nada mais seria como antes.


Black Sabbath – “Vol. 4” (1972)

A maioria do público idolatra os primeiros três discos do Sabbath, mas a grande trilogia da banda é aquela formada por “Vol. 4”, “Sabbath Bloody Sabbath” e “Sabotage” (dos três, “Vol. 4” é o mais impressionante). O álbum foi gravado em uma mansão de Los Angeles com os quatro integrantes cheirando pó enlouquecidamente e na companhia de groupies, penetras e traficantes. O resultado é um disco inspiradíssimo e que traz o riff de guitarra mais absurdo gravado pelo mestre Tony Iommi: “Supernaut”.


Frank Zappa – One Size Fits All (1975)

As bandas de apoio de Zappa tiveram inúmeras encarnações e sua obra é fundada em uma discografia complexa e que abrange de doo-wop a jazz eletrônico, passando por obras conceituais debochadas (como “Thing Fish”) e peças orquestrais. A tarefa de selecionar um único álbum de artista tão idiossincrático é árdua, mas “One Size Fits All”, nono disco de Zappa com os Mothers of Invention, é um de seus momentos mais iluminados. Da abertura apoteótica com “Inca Roads” até a antológica “Andy”, o álbum tem todos os principais atributos zappianos: exuberância técnica, senso de humor e afiado sentido de composição.


Misfits – “Static Age” (1978)

Grande parte dos singles clássicos do Misfits são oriundos de uma mesma sessão de gravação de 1978. Esse material foi reunido pela primeira vez em um álbum somente em 1996 –após a resolução da guerra judicial entre Glenn Danzig e Jerry Only- sob o título “Static Age”. Quase tudo que você precisa ouvir do Misfits está aqui e com aquela gravação deliciosamente tosca que agrega um charme especial às canções. A imersão da banda na estética de filmes B e no submundo de Hollywood nunca funcionou tão bem. Um clássico do punk rock.


ZZ Top – “Eliminator” (1982)

A pequena e velha banda do Texas já era um dos atos mais bem sucedidos do blues rock americano quando gravou “Eliminator”, em 1982. Alguns de seus trabalhos anteriores, como o excelente “Degüello”, davam pistas que Gibbons, Hill e Beard tinham recursos para reinventar seu som poeirento e estradeiro. Mas em “Eliminator”, tudo, absolutamente tudo, funcionou à perfeição. As canções são irresistíveis e a execução é infernal, com Gibbons entregando alguns de seus melhores riffs e solos. Os clipes icônicos para faixas como “Legs” e “Gimme All Your Lovin’” impulsionaram o ZZ Top ao imaginário popular e resultaram em vendas multiplatinadas para o disco.


Tom Petty & the Heartbreakers – “Full Moon Fever” (1989)

Obra-prima da música pop baseada numa safra de canções tão suculenta que deixa o álbum parecido com uma coletânea de sucessos. Mas “Full Moon Fever” é um disco de carreira de Petty e seus Heartbreakers, gravado na esteira de sua colaboração com o supergrupo Travelling Willburys -- George Harrison e Roy Orbinson participam com vocais de apoio e Jeff Lyne toca baixo e produz. “Free Fallin’”, “I Won’t Back Down”, “Love is a Long Road”, “Runnin’ Down a Dream”: a lista de composições exuberantes impressiona, assim como o trabalho de guitarra do grande Mike Campbell. Disco de cabeceira de quem tem algum juízo.


Social Distortion – Somewhere Between Heaven and Hell (1992)

A cultura low rider, o revisionismo da estética dos filmes de gângsteres e de pin-ups, as tatuagens e os rebeldes sem causa. Mike Ness tomou todos esses temas para si, escreveu belíssimas canções sobre eles e transformou-se em um tipo de trovador com espírito punk. O repertório do Social Distortion encontrou o equilíbrio perfeito em “Somewhere Between Heaven and Hell”, com sua produção impecável e um passeio de caranga envenenada por blues, rock’n’roll e Americana.


Fugazi – “In on the Kill Taker” (1993)

Surgido das cinzas de Minor Threat e Rites of Spring, o Fugazi pegou tudo que se conhecia sobre punk rock e hardcore e virou do avesso. A revista inglesa de metal Kerrang! certa vez descreveu a música da banda como post-hardcore e talvez seja o melhor rótulo para descrever o Fugazi. O grupo atingiu seu ápice em “In on the Kill Taker”, de 1993 - um êxtase de tramas instrumentais complexas e viscerais e com o inconfundível contraste entre as vozes de MacKaye e Picciotto. O repertório desse disco foi defendido ao vivo em performances arrebatoras por uma banda que deixava as tripas no palco.


Monster Magnet – Dopes to Infinity (1995)

Dave Wyndorf é um dos grandes artistas do rock dos últimos 30 anos e dono de uma de suas mais belas vozes. O líder do Magnet também conhece como poucos a cena de bandas de garagem dos anos 60, o hard rock, a psicodelia e o space rock dos 70’s. É um ourives da boa cultura pop. E foi reprocessando essas referências com uma quadrilha de grandes músicos que Wyndorf cunhou álbuns como “Powertrip”, “God Says No” e “Monolithic Baby!”. Em “Dopes to Infinity”, de 1995, há quase tudo do melhor que o Monster Magnet sabe fazer: temas instrumentais apocalípticos, baladas lisérgicas, flertes com o proto-punk à la Stooges/MC5 e hard/stoner pesadíssimo. Se existirem bordeis em Marte, é essa a música que eles tocam.


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