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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Entrevista: Adolescents.




Os Adolescents tem um papel muito importante na história do Punk americano. Seus integrantes sempre estiveram envolvidos com bandas marcantes para a cena, antes e depois dos Adolescents. E, musicalmente, a banda estava sempre um passo a frente das demais. Basta ouvir o seu fantástico primeiro álbum, de 1981, onde fica claro que já eram ótimos músicos, apesar de serem ainda muito jovens, criando canções com estruturas muito diferentes para os padrões musicais do punk rock americano até então. A banda marcou época e virou referência no cenário, sendo influência para centenas de outras posteriores.

As vésperas do primeiro show no Brasil, em uma entrevista exclusiva, o vocalista Tony Cadena e o baixista Steve Soto falaram um pouco da sua longa carreira, da cena californiana nos anos ‘80, da relação sempre conturbada com o ex-guitarrista Rikk Agnew. E as expectativas para o primeiro show no Brasil junto com os Buzzcocks! Ah, essa entrevista foi publicada na revista "Comando Rock", edição 72, poucas semanas antes do primeiro show dos caras em São Paulo, no ano passado. Apesar do tempo, penso que ela continua atual e relevante em muitos pontos e tópicos !!


Como está sendo o ano para os Adolescents?

Tony: Todo dia é um grande dia.

Steve: Um grande ano. Até agora temos feito grandes shows com antigos amigos como o Bad Religion, Youth Brigade, Agent Orange e The Dickies. E alguns novos amigos como o Rancid e Pennywise. Fizemos um novo álbum, temos novos tênis... Um bom ano para nós, e nós finalmente iremos tocar no Brasil com o Buzzcocks!

Vocês estão lançando também o novo álbum, The Fatest Kid Alive. Vocês podem nos contar um pouco sobre o mesmo?

Tony: São no total 14 novas canções. É um outro grande álbum.

Steve: É rápido e é alto. Em breve será mais fácil de roubar...

Desde o retorno oficial vocês não pararam mais de tocar. Qual a diferença agora para os outros tempos?

Tony: Nós tocamos na América do Norte, Europa e Ásia. Em breve, tocaremos na América do Sul para milhares de pessoas ao invés de tocar na garagem da minha mãe em Anaheim para oito pessoas e meu cachorro.

Steve: A cachorra foi nossa primeira fã até começarmos a ficar famosos. Ela nos deixou para procurar música mais underground. Logo que chegamos às rádios, a cachorra começou a latir “traição”... Sério. Acho que a diferença agora é que as coisas no passado que causaram os desvios na banda como o abuso de substâncias, problemas pessoais, etc, ficaram todas para o final do dia. Tony e eu decidimos que a banda era mais importante do que qualquer membro e que se alguém fosse prejudicial à banda, este deveria ser substituído.


As constantes mudanças na formação não atrapalham demais? Ou possuem outras alternativas para isso não ser mais um grande problema? (parece que a banda tem outros músicos quando os principais não podem sair em turnês)

Tony: Isso nunca foi um problema para mim ou para o Steve. Embora deva ser um problema para outra pessoa, que deixou a banda.

Steve: Nunca foi um problema. A banda toca melhor do que nunca e a grande coisa é que os caras que não estavam na formação original eram grandes fãs da banda. Então eles são tão apaixonados pela música como Tony e eu.

Rikk Agnew (um dos fundadores do Adolescents) esteve no Brasil fazendo alguns shows recentemente. Mantém contato com ele hoje em dia?

Tony: Rikk, bem, ele não é um membro fundador dos Adolescents. Steve, Franco ( Frank Agnew ) e eu somos membros fundadores. Rikk juntou-se cerca de oito meses mais tarde como o nosso baterista. Ele não tocava muito bem. Então ele se mudou para a guitarra. Ah, sim, com certeza! Temos um relacionamento: Somos amigos no Facebook.

Steve: Eu conheci Rikk e Tony quando eu estava no Agent Orange. Quando eu saí da banda, eu já estava pensando em começar uma nova com o Tony. Eu perguntei ao Rikk se ele estava interessado, ele disse que não. Ele estava em uma banda chamada The Detours. “Mas você deve perguntar ao meu irmão mais novo” sugeriu Rikk. E foi o que fizemos, e assim Franco veio a bordo da primeira formação dos Adolescents, construíram as bases para o que estava por vir. Estávamos fazendo melhores shows e nos estabelecendo em Los Angeles e Orange County tendo um desempenho melhor do que o The Detours (que consistia em Rikk e Casey – futuro baterista dos Adolescents - e mais alguns caras). De qualquer maneira Rikk se juntou a banda porque estávamos melhores do que sua antiga banda. Ele trouxe grandes canções também! Mas como o Tony disse, já tínhamos mais de oito meses de formação. E sim! Somos grandes amigos no Facebook!


Ele inclusive esteve no retorno da banda, chegando a participar da gravação do dvd em 2003 (na conceituada casa House of Blues). Alguma razão especial para ele não estar mais com vocês? (Parece que rola uma relação de amor/ódio entre os Adolescents/Rikk Agnew. O músico quando esteve aqui também criticou seus antigos companheiros de banda).

Tony: Rikk não está mais na banda porque eu o despedi. Ou o Steve o despediu. Ou nós dois fizemos isto. Nada pessoal. Você pode muito bem entrar em contato com ele e levá-lo de volta ao Brasil. Ele talvez aceite.

Steve: Primeiramente, Rikk não esteve nos Adolescents nos últimos sete anos. Nós o amamos, mas a situação chegou ao ponto no qual Rikk não aparecia mais nos shows. Nós apreciamos nossos fãs e não sentimos que eles merecem alguém assim. Nos anos que se passaram, nós continuamos a tocar nossas músicas por toda a América do Norte, Europa e Japão. A banda avançou e eu percebi que nunca estivemos no Brasil. Nós devemos continuar a seguir em frente e nos adaptar a essas questões. São sete anos que se passaram, então para nós é tudo passado.

Falando ainda no Rikk, a família Agnew sempre foi importante nos Adolescents. Frank (irmão do Rikk), Alfie (irmão mais novo dos dois) e Frank Agnew Jr (filho do Frank) estão/ou já passaram pela banda!

Tony: Os Agnews viveram praticamente na mesma casa que nós. Eles eram a escolha lógica para as substituições na base da banda. Eles também são quatro fantásticos guitarristas. Enfim, eles sempre são bem-vindos a juntar-se conosco quando bem entenderem.

Steve: O Frank não gosta de viajar, mas sempre toca em shows conosco no sul da Califórnia.


O baterista Derek O’Brien ( que também tocou com o Social Distortion/Agent Orange/D.I/ Generators ) esteve um bom tempo nos Adolescents. Qual a razão da saída dele?

Tony: Derek? Vamos falar dele antes de discutir sobre o Casey? (risos). Derek estava com a banda por sete longos anos. Ele deixou a banda porque eu o demiti, ou o Steve o demitiu, ou nós dois fizemos isto.

Steve: O que podemos dizer sobre um cara que foi demitido da maioria das bandas as quais ele tocou?

Tony: Eu diria que anunciaríamos “contratamos bateristas” nos classificados.

Alguns integrantes dos Adolescents formaram outras bandas nos anos '80, e que também são importantíssimas para a cena americana como o D.I, Christian Death, ADZ, Abandoned,entre outras...

Tony: Bem, incrível não? Nós todos tocamos música por grande parte de nossas vidas. E nós todos temos muitos amigos na cena local de música. Eu acho muito interessante que tenhamos nos focado nos anos 80 e não nos 90. Nós temos sido muito proféticos o tempo todo. Steve, Rikk, Casey, Frank e eu gravamos no total 15 álbuns cada um separados dos Adolescents ( D.I, projetos solos de Rikk, do Steve, o ADZ, Joyride, Flower Leperds, 22 Jacks, Legal Weapon, Abandoned, Christian Death, Poop...)

E ainda Steve, Frank e Rikk fizeram parte de duas outras bandas que são ícones do Punk americano, e antes do Adolescents ser formado: Agent Orange e Social Distortion! Vocês podem falar algo sobre esse período?

Tony: Eu estava na platéia. Peguei o microfone deles e tentei ser o cantor. Não funcionou muito bem.

Steve: Eu comecei o Agent Orange com o Mike Palm e o Scott Miller. Foi a minha primeira banda. Mike queria ser o único compositor e eu tinha canções que eu havia escrito mais não podíamos toca-las. Assim, não estava funcionando para mim. No final, acabou funcionando melhor para ambos. Eu comecei o Adolescents com o Tony e fui capaz de escrever as canções também. Eu amo ver que Mike ainda toca. Nos acabamos de tocar juntos em uma turnê dupla do Adolescents com o Agent Orange e foi ótimo vê-lo novamente. Nós vivemos em cidade diferentes, mas eu amo quando eu tenho a chance de rever meu amigo. Agent Orange é uma grande banda e eu me sinto orgulhoso de ter feito parte da mesma.


A cena californiana era grande quando vocês começaram, com bandas excelentes como Black Flag, Bad Religion, TSOL, Agent Orange, Dead Kennedys, Social Distortion, Circle Jerks, 7 Seconds, Youth Brigade e tantas outras! Como era a atmosfera dos shows nessa época? Quais os clubes mais legais para show nesses tempos?

Steve: Na verdade, a cena não era tão grande quando nós começamos. Não havia o Bad Religion, ou o Youth Brigade ou o TSOL. Essas bandas vieram um pouco depois de nós. No começo, a cena era pequena em LA. Nós vivíamos nos subúrbios e não era “legal”. Mas o punk começou a fazer sentido aos entediados adolescentes e assim a cena foi crescendo. Todas as crianças agitadas começaram a tocar em festas caseiras para um punhado de pessoas e no final, estavam tocando para platéias de três mil punks.

Tony: Grandes bandas, ótimos shows. A atmosfera? Cheirava a cerveja choca, cigarros e sexo. Quase como é hoje.


Rolava uma camaradagem entre as bandas ou algum tipo de “competição” mesmo? Que bandas vocês curtiam ou costumavam tocar juntos?

Tony: Competição? Com certeza. Ninguém vai concordar com isso, mas sempre houve em um nível amigável. Nós todos amamos as outras bandas.

Steve: Minha banda favorita, pessoalmente falando, era o Circle Jerks. Nós tocamos muito com eles, eu estava em todos os shows da banda. Mas todas as bandas eram ótimas. Bad Religion, Social Distortion e todos nós apoiamos umas as outras. Mas claro, havia uma competição natural também.

O que vocês acharam do documentário “American Hardcore”? Através dele dá pra ter uma idéia próxima do que era realmente o Punk nos Estados Unidos, nos anos ’80?

Tony: Acho que Paul Rachman e Steve Blush fizeram um grande trabalho.

E qual a real importância de fanzines como a Maximum RocknRoll e Flipside para a cena Punk americana na opinião de vocês?

Tony: Eu estarei sempre em dívida com Al Kowlewski e Tim Yohannon (editores de ambos os fanzines) pela paixão deles e amor pelo rock n’roll na Califórnia.

Steve: Os fanzines eram fantásticos e também ajudaram a ensinar sobre as bandas fora da Califórnia como Husker Du, The Replacements, Bad Brains, etc.


O primeiro lp dos Adolescents é um verdadeiro clássico do Punk; ainda muito forte e atual, e até hoje vendendo muito bem! E vocês eram muito jovens quando gravaram ele também... Em algum momento perceberam que estavam criando um disco tão marcante e influente dentro da cena?

Tony: Com certeza. Nós pensávamos que íamos ser a maior banda que Anaheim e Fullerton iria ver. A maior banda que sairia de uma garagem na Syracuse Avenue.

Steve: Eu realmente apenas queria que a cachorra do Tony gostasse de nós. Mas sério, nós sempre fomos muito apaixonados por nossa banda. Mesmo sendo desaprovada no começo e se encontrando muito distante do mainstream. Eu me lembro do pai do Rikk e do Frank sempre nos dizendo para sermos mais comerciais, se quiséssemos nos tornar bem sucedidos. Sinto-me muito feliz de nós não termos dados ouvidos a ele. Fizemos o CD que queríamos fazer com nenhuma idéia de onde este nos levaria. No verão passado em turnê, Tony e eu fomos ao telhado do nosso hotel no qual tínhamos um vista para um vinícola na Croácia e começamos a gargalhar de tão incrível que é ver o mundo após nosso começo como banda punk, onde todos falavam que iríamos falhar.


Qual é a verdadeira estória por trás da letra de “Kids Of The Black Hole” (canção presente no primeiro álbum)?

Tony: O “Black Hole” (buraco negro) era um apartamento do Mike Ness (Social Distortion). Foi lá que nós desperdiçamos todo o nosso ano.

Steve: 1700 E. Wilshire Avenue, Fullerton, CA. Jogue esse endereço no Google Maps, faça um tour por satélite. A canção é a história. Cada palavra de nossa verdade. Essa era nossa vida em 1980.

Muitas bandas já fizeram covers de vocês, como o NOFX e Dropkick Murphys, por exemplo. Que versões curtiram feitas por outras bandas?

Tony: Eu sou muito lisonjeado por cada banda que toca nossas canções. Essa é a coisa mais legal no mundo. Eu realmente amo NOFX, Fu Manchu, Mudhoney, Dropkick Murphys, D.I, Rikk e o que cada um desses que eu citei fez com nossas canções. Eles são fantásticos. É ótimo ouvir outras vozes em nossas canções.


E as expectativas de tocar em um país pela primeira vez, no caso o Brasil?

Tony: Bom. É sempre excitante tocar para um público o qual nunca tocamos antes. Apesar do “jet lag” e da fadiga, há apreensão, stress e excitação. É uma montanha russa emocional. Eu sempre quis vir ao Brasil.Será incrível!

Steve: Muitos de nossos amigos já tocaram no Brasil e todos não tiveram nada mais do que apreço pela cena musical. Nós estamos muito excitados pelo que vai vir.

O show vai rolar com os Buzzcocks, outra lenda do Punk. Vocês curtem o som deles ou de outras bandas inglesas?

Tony: Eu amo os Buzzcocks. Eles são minha banda favorita. Outra banda inglesa... Eu gosto dos Kinks, bastante. Os Beatles, eles têm algumas boas canções também.


Steve: Estou muito feliz em tocar com o Buzzcocks. Gosto muito também, em relação às bandas inglesas do The Damned, SLF, Sham 69, Generation X e especialmente do The Clash.

Com 30 anos na estrada, tem alguma coisa que ainda que não foi conquistada por vocês?

Tony: Nenhum de nós mudou de sexo.

Steve: Ainda não, mas não descartamos a hipótese.